Na catequese da Audiência Geral, Leão XIV se deteve na “humildade” de Jesus, um aspecto surpreendente de sua ressurreição. O Pontífice disse que a ressurreição de Cristo “é uma transformação silenciosa que dá significado a cada gesto humano”. “Cada gesto realizado na gratidão e na comunhão antecipa o Reino de Deus”, sublinhou.
Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (08/10), realizada na Praça São Pedro, o Papa Leão XIV refletiu sobre “um aspecto surpreendente da Ressurreição de Cristo: a sua humildade”.
Segundo os Evangelhos, “o Senhor ressuscitado não faz nada de espetacular para conquistar a fé dos seus discípulos. Não aparece rodeado de um exército de anjos, não realiza gestos dramáticos, não profere discursos solenes para revelar os segredos do universo”, mas “se aproxima discretamente, como um viajante qualquer, como um faminto que pede para partilhar um pouco de pão”.
Ressurreição, transformação silenciosa
Maria Madalena confunde Jesus “com um jardineiro. Os discípulos de Emaús consideram-no um forasteiro. Pedro e os outros pescadores consideram-no apenas mais um transeunte”. “Nós teríamos esperado efeitos especiais, sinais de poder, provas contundentes. Mas o Senhor não procura isso: Ele prefere a linguagem da proximidade, da normalidade, da mesa partilhada”, frisou o Papa.
“Irmãos e irmãs, há aqui uma mensagem preciosa: a Ressurreição não é uma reviravolta dramática, é uma transformação silenciosa que dá significado a cada gesto humano. Jesus ressuscitado come um pedaço de peixe diante dos seus discípulos: não é um pormenor marginal, é a confirmação de que o nosso corpo, a nossa história, as nossas relações não são uma embalagem a ser descartada. Estão destinados à plenitude da vida. ”
Portanto, “ressurreição não significa tornarmo-nos espíritos evanescentes, mas entrar numa comunhão mais profunda com Deus e com os nossos irmãos e irmãs, numa humanidade transfigurada pelo amor”, disse ainda o Papa.
A dor não é a negação da promessa
“Na Páscoa de Cristo, tudo se pode tornar graça. Até as coisas mais comuns: comer, trabalhar, esperar, cuidar da casa, ajudar um amigo. A Ressurreição não tira a vida ao tempo e ao esforço, mas muda o seu sentido e o seu “sabor”. Cada gesto realizado na gratidão e na comunhão, antecipa o Reino de Deus.”
Segundo o Papa, “existe um obstáculono entanto, que muitas vezes nos impede de reconhecer esta presença de Cristo na nossa vida quotidiana: a pretensão de que a alegria deve ser isenta de feridas. Os discípulos de Emaús caminham tristes porque esperavam um final diferente, um Messias que não conhecesse a cruz. Mesmo sabendo que o túmulo estava vazio, não conseguem sorrir. Mas Jesus está ao lado deles e, pacientemente, os ajuda a compreender que a dor não é a negação da promessa, mas o caminho pelo qual Deus manifestou a medida do seu amor”.
Nenhuma queda é definitiva
Quando eles “se sentam à mesa com Ele e partem o pão, os seus olhos se abrem, e percebem que os seus corações já estavam ardendo, mesmo sem saber. Esta é a maior surpresa: descobrir que, sob as cinzas da desilusão e do cansaço, há sempre uma brasa viva, à espera de ser reacendida”.
“Irmãos e irmãs, a ressurreição de Cristo nos ensina que nenhuma história é tão marcada pela desilusão ou pelo pecado que não possa ser visitada pela esperança. Nenhuma queda é definitiva, nenhuma noite é eterna, nenhuma ferida está destinada a permanecer aberta para sempre. Por mais distantes, perdidos ou indignos que nos sintamos, não há distância que possa extinguir a força infalível do amor de Deus.”
Leão XIV disse ainda que “por vezes, pensamos que o Senhor nos vem visitar apenas nos momentos de meditação ou de fervor espiritual, quando nos sentimos dispostos, quando as nossas vidas parecem ordenadas e luminosas”.
“No entanto, o Ressuscitado aproxima-se precisamente nos lugares mais sombrios: nos nossos fracassos, nas relações desgastadas, nas fadigas quotidianas que nos pesam, nas dúvidas que nos desanimam. Nada do que somos, nenhum fragmento da nossa existência lhe é estranho.”
O Senhor está vivo, caminha conosco
“Hoje, o Senhor ressuscitado está ao lado de cada um de nós, enquanto percorremos os nossos próprios caminhos – o do trabalho e o do compromisso, mas também o do sofrimento e o da solidão – e, com infinita delicadeza, pede-nos que deixemos aquecer os nossos corações. Não se impõe em voz alta, não exige reconhecimento imediato. Aguarda pacientemente o momento em que os nossos olhos se abrirão para vislumbrar o seu rosto amigo, capaz de transformar a desilusão em expectativa confiante, a tristeza em gratidão, a resignação em esperança”, disse ainda o Papa, convidando a pedir a Deus “a graça de reconhecer a sua presença humilde e discreta, de não esperar uma vida sem provações, de descobrir que cada dor, se habitada pelo amor, pode tornar-se lugar de comunhão”.
“Assim como os discípulos de Emaús, nós também voltamos para casa com o coração ardendo de alegria. Uma alegria simples, que não apaga as feridas, mas as ilumina. Uma alegria que nasce da certeza de que o Senhor está vivo, caminha conosco e nos dá a cada momento a possibilidade de recomeçar.”
Mariangela Jaguraba – Vatican News
Imagem capa: Vatican Media